Aspectos
Sociais no uso Abusivo de Drogas
O
consumo de drogas é tão antigo quanto a humanidade, relatado inclusive
na Bíblia. Sua ocorrência ao longo dos anos foi caracterizada como
um fenômeno cultural. Porém, o que se observa nos dias de hoje é uma
expansão tão grande e rápida que podemos falar em epidemia.
Neste sentido uma questão se impõe: O que está levando a sociedade
atual a uma utilização excessiva de drogas ???
Ao tratar deste assunto tão complexo, como o uso abusivo de drogas,
não podemos menosprezar aspectos importantes como a predisposição
orgânica, a estrutura de personalidade e a dinâmica familiar. Da mesma
forma, não podemos minimizar a influência da sociedade moderna no
uso e abuso de drogas.
Para se "desdrogar" a sociedade são necessárias transformações
estruturais e qualitativas. Falar em prevenção é falar em uma sociedade
menos patológica.
Fazendo uma breve comparação do uso de drogas analisados por estudos
históricos-antropológicos de antigamente e nos dias atuais constatamos
que:
Antigamente: o uso de drogas era um elemento de integração.
Utilizado na maioria das vezes por adultos, com objetivos místicos,
religiosos, intelectuais ou guerreiros por certos grupos e em certas
circunstâncias. A droga estava inserida inclusive num contexto sócio-cultural,
ou seja, a maconha era utilizada no oriente, o álcool no ocidente.
Atualmente:
o uso de drogas é utilizado como elo desintegrador, ocupando o espaço
da intimidade das relações interpessoais. A droga é tratada mais como
uma questão econômica do que de saúde pública. A plantação, produção
e comércio das drogas envolve quantias astronômicas, atingindo o terceiro
lugar na classificação dos "negócios" que mais movimentam
o mercado financeiro a nível mundial.
Existem alguns pontos essenciais para a compreensão do lugar que a
droga ocupa na nossa sociedade.
1. O ritmo acelerado de transformações (o
computador de seis meses atrás hoje é considerado obsoleto); a descartabilidade de
objetos e pessoas. Não há tempo e espaço para assimilar de forma produtiva,
transformações vertiginosas.
2. A fragilidade dos laços primários e a escassez de modelos de identificação
dificultam o processo de introjeção de valores. Quem confia com orgulho do seu governo
ou da polícia ?
3. A prevalência de uma ordem social que tende a hiper-racionalização e normatização.
Nosso comportamento deve ser adequado e lógico e nossos sentimentos desvalorizados.
4. A medicalização da vida oriundo da crença dos poderes mágicos dos remédios. Comeu
demais, bebeu demais, não dorme, está angustiado??? Tem sempre um remédio para sua dor.
A substância química substituindo o conforto humano. Não é à toa que o remédio mais
consumido dos últimos quinze anos é o diazepan.
Dizer que a droga é a causa da deteriorização é , no mínimo, uma inversão
de valores. É o próprio sistema social que configura o terreno social
que predispõe a proliferação das toxicomanias. Qualquer enfoque: individual,
familiar, político, social ou espiritual avaliado individualmente
será limitado.
Dorit
Wallach Verea
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